Look!

14 de janeiro de 2011 § 1 comentário

Por achar que não me olha, me arrumei de novo, e mais uma vez, e mais uma. Depois de trocar dezessete vezes minhas poucas peças, acabei vestindo a mesma roupa – foi o que me caiu melhor, porque foi a primeira que quis. No estranho pensamento de que não me ouvísseis, cantei os mais lindos versos de Vinícius, as mais belas óperas italianas e a mais sentimental fossa Noel – pra você ficar com dó, me olhando baixinho, sussurrando pena. De olhos e ouvidos fechados, sinto que não terá as minhas alegrias, mas me esforço. De tempos em tempos, lembro de olhar pra dento. Por pior, ou melhor, que possa ser, vejo lá também você: olhos, sorriso, saudade e simpatia.

Percebendo que o sentimento era meu e só meu, te abracei com o meu melhor amplexo: de colo mais sensível e aconchegante, e de carinho mais iminente e gratuito. Sem sabor nem sentimento, fiz meu salgado tocar a sua língua. Antropofagia momentânea. Prato principal da noite-vida-severina que levamos. Cobrindo de afeto o que a pele fez suar naturalmente. Pela tristeza que se faz quase certeza de que não pensa em mim, te liguei, mandei torpedo, troquei e-mails, mandei flores, fotos bombons e ursinhos. A fim de se lembrar. Memória de calcular.

Com medo, e muito, que outro te inebriasse, troquei meu perfume pelo mais caro. E estarei na sua respiração, quando por perto, assim como na sua lembrança, quando distante.  Bonito, de banho tomado, com todo o cuidado que não tenho na escrita breve de um relato quotidiano, percebo em mim uma taquicardia nova – parecida com aquela provocada pelo café. E me lanço, apenas para que me olhe, ou note, ou queira. Num relance assim medido, um “look at me!” desinibido.

§ Uma Resposta para Look!

  • Anne disse:

    “De tempos em tempos, lembro de olhar pra dento. Por pior, ou melhor, que possa ser, vejo lá também você” Uau!!! romantismo… rs adoro

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